SEGUNDO O TIMES DE LONDRES: ‘GAY É LIXO’

Os mistérios da linguística

Cada vez que aparece um novo fenómeno linguístico constatamos a sabedoria de Hayek quanto à epistemologia evolucionária. Ele utiliza, em particular, a comparação da evolução dos nossos conhecimentos com a evolução da linguagem e a evolução do ‘common law’. Ninguém desenha, nem pode prever a complexa evolução da sociedade humana e as suas instituições. O que sempre prevalece é o princípio das ‘unintended consequences’ (consequências não intencionadas).

Ao meio do século passado, o incipiente movimento de alguns activistas resolveu promover publicamente e, finalmente, impor o uso da palavra ‘gay’ para significar homossexual. A intenção era melhorar a imagem. Até aí a palavra, antes equivalente ao francês gaie (alegre), funcionava como uma simples palavra de código dentro dos círculos restritos de homossexuais que ainda não ousavam ‘sair do armário’.

Primeiro, foi a palavra nas colunas dos jornais; depois foram as manifestações. E estas últimas foram declaradamente de ‘gay pride’, ou orgulho gay. O propósito anunciado foi o de inculcar e proclamar a auto-estima de seres que se consideravam vítimas de uma sociedade cruel. Eles, os homossexuais, ganhariam assim auto-estima e coragem. Os heterossexuais deixariam, frente à agressividade da propaganda e pressões do ‘politicamente correcto’, de desconsiderar os homossexuais e avançaríamos todos na direcção de um mundo melhor.

Foi uma imitação do movimento do ‘black pride’, e igualmente mal concebida. Como se alguma vez pudéssemos construir a nossa auto-estima à base da cor da pele ou da orientação sexual. Foi o cúmulo do desconhecimento sociológico.

E eis a prova!

Num momento em que as autoridades, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, avançam com legislação contra os supostos ‘hate crimes’, a miudagem e a juventude, sempre irreprimíveis nas suas inovações linguísticas, começaram a adoptar a palavra ‘gay’ num sentido pejorativo. Começaram a chamar coisas desprezíveis de ‘gay’ e ninguém consegue travar a rápida expansão desta moda que já foi adoptada por muitos adultos e até aparece na BBC.
É um processo que já dura mais de doze meses e foi noticiado primeiro no Times de Londres e comentado pela própria BBC em Junho do ano passado. Ver o artigo naquele jornal com o título: ‘Gay means rubbish, says BBC’, do dia 6 de Junho de 2006:

The governors (of the BBC) believed that, in describing a ringtone as gay, the DJ was
conveying that he thought it was “rubbish” rather than “homosexual”.
Moyles was not being homophobic, they said.

The panel acknowledged, however, that this use of the word “gay” in a
derogatory sense could cause offence to some listeners and counselled
caution on its use….

The committee, which consists of five BBC governors, including the
former Royal Ballet dancer Deborah Bull, was “familiar with hearing this
word in this context”.

Given Moyles’s target audience of young listeners “it was to be expected
that he would use expressions and words which the listeners used
themselves”.

The governors believed that, in describing a ringtone as gay, the DJ was
conveying that he thought it was “rubbish” rather than “homosexual”.
Moyles was not being homophobic, they said.

The panel acknowledged, however, that this use of the word “gay” in a
derogatory sense could cause offence to some listeners and counselled
caution on its use. The committee, which consists of five BBC governors, including the
former Royal Ballet dancer Deborah Bull, was “familiar with hearing this
word in this context”.

http://entertainment.timesonline.co.uk/tol/arts_and_entertainment/article671972.ece

De facto, em alguns círculos mais intelectualizados, muitos homossexuais, tanto na América quanto deste lado do Atlântico, abandonaram a palavra ‘gay’ e voltaram a utilizar ‘queer’ como em ‘Queer Studies’ em algumas universidades anglo-saxónicas.

Para quando o retorno em Portugal ao uso da venerável palavra ‘esquisito’?

14 pensamentos sobre “SEGUNDO O TIMES DE LONDRES: ‘GAY É LIXO’

  1. Já li muitos posts ofensivos e homofóbicos no Insurgente pelo que já sei ao que venho quando visto o blog. Agora deparar com este comentário, em que perante a utilização da palavra ‘gay’ num sentido pejorativo, ofensivo e discriminatório, associando-a a lixo, o AAA não consegue reprimir a sua satisfação, confesso que fico chocado. Este é o passo que distingue o preconceito do ódio, que demonstra uma vontade clara de discriminar, de apontar o dedo e de isolar determinados concidadãos do resto da comunidade. Mesmo tendo em conta o que por vezes se lê por aqui, é quase inacreditável o ponto a que consegue chegar.

  2. Peço desculpa ao André Azevedo Alves, pois não me tinha apercebido que o post era de Patricia Lança. Fiz um page up rápido demais e devo ter lido a autoria do post de cima. Pelo facto peço desculpa. O conteúdo do que disse mantém-se, contudo, intacto.

  3. Ana Vasconcelos

    As paradas de orgulho gay nunca me pareceram de molde a dignificar a causa. Parecem um grupo de maluquinhos a brincar ao carnaval fora de época.É, pois, compreensivel que as coisas não corram exactamente como o esperado.

  4. olá
    É inacreditável o tempo que dedicam a este tema. Zaramba pensei que tivesse algo mais interessante para fazer. A Senhora Dona Patrícia Lança quer dizer o que com este post? qal o seu objectivo? Isso é que gostava de saber!

    PS: Um último comentário gostaria que continuasse a pontuar os seus textos com longas citações em inglês, ajuda imenso os seus propósitos homófobos!

  5. Cara Ana Vasconcelos
    Algumas vez esteve numa marcha do orgulho Gay? Se não esteve nao fale doque não sabe! Convido-a a em 2008 se juntar amim e lhe explicar a marcha de lisboa: a razões que a originam e claro, o porquê de estar ali!

  6. Joao

    O Christopher’s Street Day em Colónia e em Berlim. 2006 e 2007. Estive nas duas marchas. Pela simples razão de estar nas cidades no momento em que estavam a acontecer. Não foi planeado. Foi um acaso. Não sou homosexual. Mas tenho a dizer que foi uma experiência divertida. A atmosfera era fantástica. E nenhum “deles” tentou comer-me. Em 2006 até fui com a minha namorada. Não houve nenhuma “discriminação” por causa disso. Não vejo qual seja o problema das marchas. Também não me parece que se deva sentir orgulho por se ser gay. Mas também não me parece que se deva sentir orgulho em ser português, cristão (as procissões não são proibidas, para quê criticar tanto as marchas de gays?) etc.

    PS – Já agora, aquele Julio Severo… Não devia ser proibido escrever o que ele escreve. Agora, que aquilo é homofobia da mais primária não se nega, ou nega?

  7. noddy

    Proibir escrever, proibir ser homofóbico, proibir ser gay, probir ser hetero, proibir, proibir, proibir… d’ass. que gente tão chata que tudo querem controlar as coisas proibindo. A única coisa que deve ser proibida é proibir!!!

  8. Euroliberal

    Se eles são gay, será que os straight são tristes ? E isso não será heterófobo ?

    Mas adiante. Via Zazie (no Cocanha), li um comentário do Dragão que explica tudo o que me andava a angustiar. Não compreendia de facto qual a relação entre as duas causas magnas na nossa jovem anciã: o activismo busho-sionista e a crispação anti-sodomita. Afinal, há aqui, como no resto, por parte da nossa P. Lança os habituais double standards, marca distintiva da neo-coneiragem: sodomia não, mas só para alguns… Mas vamos à fonte:

    “…Resta acrescentar que a senhora dona Patrícia tem todo o direito a não apreciar sexo oral e anal. Imagino até como o anillingus, que é uma joint-venture de ambos, deve aborrecê-la. Gostos não se discutem. Mas não se pense mal, sobretudo não se pense que a senhora é uma anacrónica obsoleta e bota-de-elástico. Isso sou eu e ela não é nada parecida comigo. Não, desenganem-se; estamos até diante duma perpétua jovem, surfadora desembaraçada numa poça de sempre-viçosa modernidade; uma – acreditem que eu nunca minto!- neófita garrida duma perspectiva avançada do deboche: enfada-a o sexo anal e oral entre pessoas porque a excita sobretudo o sexo anal e oral -e, quiçá, até manual – entre países. É este requinte de perversão que a maralha não compreende. O metavoyeur, quando alcança o nível do país, desinteressa-se dos indivíduos. E a Patrícia está farta de explicar: o sexo anal é mau, faz mal à saúde, excepto quando praticado activamente pelos países anglo-saxónicos e passivamente por todo o restante planeta; tanto quanto o sexo oral é péssimo, excepto quando exercido, sofregamente, por todos os países ao semper-erectus Estado de Israel. Especialmente na versão anilingular. As leis rigorosas gozam sempre de excepções meticulosas. E providenciais.
    Vós todos, ó charilas, ainda tendes muito que aprender com a Patrícia. (A quem aproveito para daqui enviar as minhas cordiais saudações).” – Dragão

  9. É certo que as palavras não têm só o seu significado etimológico imanente, mas também aquele que resulta do uso e sentido que lhes damos.
    Já quanto a saber a razão por que a Patrícia Lança saliva de alegria com o sentido pejorativo que o termo adquiriu, é algo que escapa completamente à minha compreensão. Eu, por outro lado, não ficaria mais descansado se o termo “criminoso” passase a designar uma velhinha que faz tricot. Da mesma forma que não me congratulo com o sentido pejorativo que este blog tem insistentmente inculcado ao termo “liberal”.

  10. mariana avelãs

    se quer recorrer à linguística para justificar a sua homofobia barata, por favor ao menos tente fingir que tem algumas preocupações de rigor e seriedade. as palavras estão constantemente a adquirir novos significados, e essa é uma das riquezas da língua. mas explicar a polissemia, sobretudo a associada a usos orais de camadas mais jovens, com a nossa própria ideologia é no mínimo ignorante. e tão simplista que mete dó. os vários significados de uma palavra não estão semanticamente omnipresentes em cada ocorrência dessa palavra: «he’s gay» pode ser traduzido por «ele é homossexual», «ele é uma pessoa alegre», «ele está feliz», e até, é claro, «ele é lixo» (entre muitas outras possibilidades). assumir que o significado «ele é lixo» transporta consigo o significado «ele é homossexual» é desconhecer completamente o funcionamento da língua. se a patrícia lê em «he’s gay» «ele é lixo porque os homossexuais são lixo», está a no seu direito. mas, para ser coerente, não poderia pura e simplesmente banir a leitura «ele é uma pessoa alegre porque os homossexuais são alegres». em qualquer dos casos, a interpretação diz muito acerca de quem lê; e quase nada acerca de quem escreve.
    ou seja: independentemente de uma possível motivação inicial homófoba (não óbvia – ou acha que a expressão «that’s wicked», significando «é fantástico», é sintoma de que a juventude já não sabe distinguir o bem do mal?) para este novo significado, é abusivo acusar toda uma geração que usa «gay» como «lixo» de considerar os gays como lixo. é claro que haverá quem dê um uso pejorativo à palavra gay apenas porque não gosta de homossexuais. mas para esses não são precisos grandes esforços lexicográficos da bbc. é nitidamente o caso da patrícia, que escusa de tentar disfarçar a sua homofobia com argumentos pseudo-linguísticos, porque já todos percebemos que ela é grave.
    já agora, «queer» e «gay» também não são necessariamente sinónimos, embora sejam muitas vezes usados como tal. em termos linguísticos, pode-se dizer que «queer» é geralmente um hiperónimo de «gay» – é o que acontece precisamente nos queer studies, porque esta área estuda questões ligadas à identidade de género e de orientação sexual, que não se resumem à homossexualidade (por muito que o ódio doentio da patrícia não a deixe ver mais nada).

  11. trezedemaio

    Não percebi esta… a Patricia Lança deve ter acordado agora de um logo sonho. Senhora, eu não sei como é em Inglaterra, mas em Portugal, como em todos os outros paises, há muito que as palavras homossexual ou gay têm um sentido muito pejorativo.

  12. Euroliberal

    Parece que o sionista Tiago Barbosa do Kontratempos não gosta da sionista Patrícia Lança e a compara aos sauditas…

    “IGNORÂNCIA. A Patrícia Lança continua a escrever coisas inenarráveis, aparentemente decalcadas da Comissão para a Promoção da Virtude e a Prevenção do Vício da Arábia Saudita. E não entendo como os outros insurgentes mantêm a sua cobertura a enormidades sucessivas” – Kontratempos

  13. Toda esta atenção que a senhor Lança dedica ao tema homossexual só pode ter uma de duas explicações:

    – ou é uma lésbica que nunca teve o prazer e a coragem de praticar o seu lesbianismo, sendo portanto uma recalcada;

    – ou foi uma lésbica que teve algum desgosto amoroso, sendo portanto uma recalcada.

    O resto são tretas.

  14. Já agora, isto não põe em causa algumas das boas respostas que aqui há. Agradeço em particular o rigor de Mariana Avelãs.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.